Infelizmente morreram muitos camaradas | |
Por Isilda Monteiro (Professora), em 2014/05/08 | 846 leram | 0 comentários | 234 gostam |
ENTREVISTA A EX-COMBATENTE DA GUERRA COLONIAL | |
Enquanto que a maioria dos países europeus reconheceu a independência das suas colónias depois da II Guerra Mundial, Portugal não lhes concedeu esse direito. Assim, entre 1961 e 1974, as colónias portuguesas iniciaram um processo de luta pela independência que levou ao eclodir da Guerra Colonial e à mobilização de muitos jovens portugueses para este conflito. É sobre este assunto que gostaria de lhe pôr uma série de perguntas. -Em que colónia combateu? R: Em Angola. -Durante quantos anos? R: Dois anos -Em que período? R: 1970-1972 -Que idade tinha quando foi enviado para a Guerra Colonial? R: 21 anos. -Como reagiu quando soube que tinha sido mobilizado? E a sua família? R: Eu e a minha família reagimos extremamente mal. -Alguma vez pensou desertar (fugir para outro país para não ir para a guerra)? Para onde? R: Sim, pensei em fugir, mas tive de reconsiderar essa ideia porque sabia que se fugisse a situação ficava pior do que quando fui obrigado a ir para a guerra. -Que tipo de preparação militar teve antes de partir? R: Treino físico e psicológico, treinos de guerra. Mas quando lá chegamos não serviu de nada pois era uma realidade muito diferente -Que táticas e armamento de guerra eram usados? R: Não me recordo que táticas eram usadas mas lembro-me que usávamos bazucas e G3 (espingardas) granadas, tanques baterias antiaéreas (canhões para abater aviões). -Algum dos seus camaradas de luta morreu ou ficou com profundas “marcas” da guerra? R: Sim, infelizmente morreram muitos camaradas e outros ficaram feridos, pois havia muitas minas anticarros. Quando fazíamos o patrulhamento davam-se os acidentes ao passar por cima da mina. -Na altura era um jovem, compreendeu a razão pela qual teve que participar nesta guerra? R: Não, não compreendi. -De que modo comunicava com os seus familiares e amigos? R: Por cartas, enviava umas fotos e escrevia mensagens. -Explique quem eram as madrinhas de guerra. Teve alguma? Que importância teve na sua vida? R: As madrinhas de guerra eram pessoas que ficavam cá e davam apoio psicológico e monetário aos soldados e muitos, soldados e madrinhas de guerra, terminavam por casar. Também ajudavam as famílias. Sim, tive uma madrinha e no meu caso tive ajuda monetária. -Considera ou considerou a Guerra Colonial justa? E o facto de ter participado nela? R: Não, na minha opinião a guerra não foi justa porque se os Guineenses, Angolanos, Moçambicanos queriam a independência, mereciam tê-la. Também não achei justo ter participado na guerra, mas teve que ser. -Refira algum acontecimento que tenha, pela positiva ou pela negativa, causado impacto na sua vida. R: O único aspecto positivo foi conhecer um país novo, uma nova cultura e nova gente. Pela negativa, eu já saí para a guerra casado e com um filho, que é o teu pai. Como eu era enfermeiro o acontecimento que causou impacto na minha vida, pela negativa, foi ver o primeiro ferido. Entrevistado – José Oliveira, 69 anos Entrevistador – Paulo Oliveira, 6º A | |
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